Objetos conectados à rede buscam facilitar a vida das pessoas. Surgem dúvidas sobre até onde podem ir para violar a privacidade e a segurança da informação das pessoas.
Por Richard Santa
Você já imaginou que seus sapatos podem indicar nas redes sociais o lugar onde você está, onde você anda, ou que quando você voltar para casa depois do trabalho você pode do seu celular dar a ordem para o fogão ligar e desligar quando a panela e seus sensores lhe dizem para fazer isso? Embora pareçam ideias trazidas de um filme fictício, são apenas dois exemplos de onde estamos indo com a Internet das Coisas (IoT). E vai acontecer mais rápido do que você imagina.
Ter tudo conectado à internet parece a tendência dos principais fabricantes de tecnologia. Uma prova deles é a última versão da feira de eletrônicos de consumo CES, realizada em Las Vegas na primeira semana de janeiro, na qual uma alta porcentagem das novidades e lançamentos teve a ver com o que tem sido chamado de "internet das coisas", "internet de tudo" ou "coisas conectadas".
De acordo com os dados da feira, mais de 900 expositores mostraram inovações que aproveitam o poder da rede para conectar dispositivos cotidianos, a fim de proporcionar maior controle e gestão do dia a dia das pessoas e organizações.
Existem várias empresas que estão marcando esse desenvolvimento. Uma delas é a Samsung, que com sua visão sobre o assunto indica o que podemos esperar. Anunciou que até 2017 90% de seus produtos estarão conectados e com a meta de atingir 100% até 2020. E no mesmo sentido está a Cisco, que projeta até 2020 a existência de 17 bilhões de objetos conectados e é por isso que possui um departamento dedicado à pesquisa e desenvolvimento no campo.
Mas os números da Cisco podem soar conservadores, em comparação com outros como o Gartner, que espera que até o mesmo ano haja aproximadamente 26 bilhões de dispositivos conectados, enquanto a Abi Research, estima suas expectativas em 30 bilhões de dispositivos. E pode haver muito mais quando o protocolo IPv6 começar, o que facilitará essa conexão.
Nesta corrida rápida para desenvolver objetos conectados, ainda não está claro para onde você quer ir e suas consequências. Mas o que está claro é que todos querem tirar proveito da tendência.
Oportunidades para todos
Federico Bausone, CEO da GME Electronics de México, dedicou sua vida profissional à tecnologia e nos últimos anos tem tido um interesse especial na relação AV/TI e na Internet das Coisas. Ele comentou que desde os anos 80 se fala de objetos conectados, mas só até agora seu progresso está sendo visto e continuará a crescer rapidamente.
Sem dúvida, esse crescimento afetará positivamente a automação residencial, que se desenvolveu graças à sua capaz de controlar objetos remotamente conectados à rede. Até hoje, as funções gerais de automação residencial e corporativa facilitam o controle da iluminação, acesso e segurança em geral, bem como sistemas de áudio e vídeo.
Como os objetos estão conectados à rede, eles são integrados à automação de casas e empresas. Pouco a pouco outros "brinquedos" foram adicionados, como ter online a lista de produtos existentes na geladeira para saber o que é necessário e objetos mais conhecidos, como relógio ou óculos chamados de inteligentes.
E embora a automação residencial seja altamente beneficiada, não é o único segmento que poderá aproveitar essa tendência. Federico Bausone disse que "muitas coisas estarão conectadas, objetos que não imaginaríamos que poderiam estar na rede, e é por isso que todos os setores serão beneficiados. Os fabricantes da indústria de AV, eletrônicos e, em geral, em todas as áreas, estão procurando o que fazer com a Internet das Coisas, como tirar o máximo dela."
Segurança e privacidade
O roubo de informações sobre cartões bancários usados em uma conhecida loja de rede nos Estados Unidos, das informações dos usuários dos sistemas Apple e Google, são algumas notícias bem conhecidas nos últimos meses que geraram grande impacto pelo número de pessoas afetadas e servem de exemplo para resolver uma das principais preocupações da Internet das Coisas: como garantir a segurança da informação.
A segurança vai de algo simples como ter os objetos conectados, o usuário pode acessar as informações e controlá-las a partir de seu dispositivo móvel, chamá-lo de smartphone, tablet ou até mesmo do computador. Mas e se o usuário perder o dispositivo ou cair nas mãos erradas dessa informação? E, claro, há a violação em larga escala de sistemas com as informações de milhões de pessoas, como as mencionadas acima.
Federico Bausone explicou que a quebra da rede existe hoje e é uma preocupação dos fabricantes. É por isso que a segurança e a privacidade desempenharão um papel fundamental no desenvolvimento de produtos conectados. "A relação entre segurança e privacidade é uma preocupação que marcará o desenvolvimento de sistemas e protocolos de segurança que serão especializados junto com o desenvolvimento, mas sempre haverá um risco presente."
Além da segurança, há também uma questão que preocupa e vai além da tecnologia, e é assim que ter todos os objetos conectados pode afetar a privacidade das pessoas, pois esses objetos são capazes de fornecer informações sobre o que cada usuário faz e suas preferências particulares.
Nesse sentido, muitas perguntas permanecem no ar, quem terá acesso a essa informação? Para que finalidade as informações serão usadas? Como os usuários serão capazes de proteger sua privacidade? Estas são algumas perguntas que nosso especialista convidado qualifica como uma das mais importantes e ainda não tem uma resposta clara. "A intimidade das pessoas com a Internet das Coisas é outra questão que está pendente de definição pelos fabricantes. Se uma pessoa quer evitar que suas informações sejam violadas ou usadas, ela tem a opção de não usar objetos conectados, mas também deve ser garantida uma maneira de proteger essas informações e que está em desenvolvimento."
E não está apenas sendo investigado e desenvolvido como conectar objetos, mas também como tirar proveito dessas informações. Um exemplo é que a empresa Adobe acaba de lançar as inovações feitas ao seu sistema Marketing Cloud, que permite que as marcas ofereçam experiências altamente personalizadas para espaços físicos, como lojas de varejo, quartos de hotel, máquinas automáticas e dispositivos para a Internet das Coisas.
Em uma das seções da descrição do serviço, a Adobe afirma que "O novo IoT SDK permite que as marcas meçam e analisem o engajamento dos consumidores em qualquer um desses dispositivos. Os dados de marketing agora são usados em conjunto com dados coletados por outros departamentos, como vendas e atendimento ao cliente, criando uma visão mais rica do cliente." Vale esclarecer que este sistema da Adobe é mencionado como um exemplo do que pode acontecer com as informações dos objetos conectados.
Por fim, Federico Bausone acrescentou que o fenômeno da Internet das Coisas está acontecendo em todo o mundo, muitas empresas estão pesquisando o assunto, inclusive na América Latina. Ele ressaltou que na região a questão da conectividade será fundamental, à medida que as redes 4G aumentam haverá mais possibilidades para esses equipamentos. "Acho que para a América Latina e o mundo em geral, momentos de muito conhecimento tecnológico virão."